domingo, 15 de abril de 2012

Studio assombrado

Meu nome é Caroline, tenho 17 anos. Faço aulas de ballet desde que tinha quatro anos, no mesmo Studio. Quando comecei, o Studio era pouco frequentado, e eu não tinha muitas amiguinhas para conversar, então conversava com uma garota imaginária, que tinha 10 anos. Brincavamos muito naquele lugar, e eu gostava muito dela, mas de vez em quando ela me pedia algumas coisas estranhas, como empurrar, machucar as garotas que faziam ballet comigo, e a professora sempre brigava comigo, pois eu obedecia minha amiga imaginária. Fui crescendo e o Studio ganhou várias bailarinas novas, então fui esquecendo a Liliane, como eu chamava minha ‘’amiguinha’’. Me tornei uma excelente bailarina, e hoje danço para fora, em outros estados, mas moro no mesmo lugar e faço aula no mesmo Studio, como já disse. De alguns meses pra cá, comecei a chegar mais cedo para ter mais tempo de ensaiar os meus solos, antes das aulas começarem. Nos primeiros dias, não percebi nada, a não ser a sala um pouco mais abafada, mesmo com as janelas abertas, mas depois de umas duas semanas, coisas diferentes começaram a acontecer. Um dia cheguei bem mais cedo do que de costume, abri as janelas, liguei o ar condicionado e coloquei a sapatilha no pé direito. Quando me virei para pegar o par, não tinha nada. Procurei em todo canto, debaixo da arquibancada, na mochila, mas nada de achar. Sentei no chão e fiquei olhando para o espelho, quando percebi a minha sapatilha pendurada pelas fitas nas cortinas, bem no alto. Achei super estranho, até pensei que estivesse ficando louca, mas apenas coloquei a sapatilha e comecei a ensaiar. Minutos depois, eu fui empurrada com força e cai no chão. Me assustei muito e sai da sala. Tomei café, fui ao banheiro e voltei para a sala, mas desta vez deixei a porta aberta. Comecei a alongar enquanto olhava para os lados. Abaixei a cabeça para tocar os pés, e no momento que eu levantei, vi a cortina mexer, como se o vento batesse nela, mas ela mexeu com força, e quando olhei para fora, não tinha uma arvore se quer balançando, mas decidi ficar com a teoria do vento. Virei de costas para o espelho e voltei a me alongar, quando o aparelho de som da sala ligou sozinho, no volume máximo. Fui saindo bem de vagar, e quando estava na porta, as luzes começaram a piscar rapidamente, e os ventiladores que não funcionam começaram a rodar. Chamei um professor e ele entrou na sala comigo, mas nada aconteceu, de qualquer forma pedi para que ele ficasse perto, caso acontecesse alguma coisa. Liguei o som, e a música que tocava era de arrepiar. Era o barulho do vento, mas se ouvia alguns gritos de socorro e dor no fundo, então simplesmente troquei a música, mas a mesma voltava a tocar depois de 10 segundos. Desliguei na tomada e ensaiei sem música, até que o som liga novamente. Chamei o professor, mas ele não percebeu nada de diferente, estava tudo certo. Estava perto de começar as aulas normais, então sai e fui tomar água. Percebi algo atrás do bebedouro. Eram bonecas, as mesmas que eu brincava quando tinha quatro anos, eram as minhas bonecas, mas estavam rasgadas e com o pescoço virado. Entrei no banheiro, lavei o rosto, e quando fui pegar a toalha de rosto, ela caiu no chão. Tremendo, sai do banheiro e falei para as pessoas que estavam ali o que estava acontecendo, mas claro que ninguém acreditou. Voltei pra casa e contei para minha mãe com esperança de que ela acreditasse, mas nada. Deitei na cama e fiquei olhando para o teto, e de repente a porta do meu quarto range, abrindo bem devagar, mas ninguém entra. Me cobri com o edredom e fiquei imóvel. Segundos depois senti uma respiração cansada perto de mim. Levantei e corri para o quarto da minha mãe, mas ela não estava. Procurei por toda a casa, e quando fui na cozinha, as facas estavam todas foras da gaveta e uma delas rodava. Gritei pela minha mãe e ouvi a voz dela bem fraca vindo do banheiro. Entrei, e ela estava lá, se contorcendo toda, tremendo e sangrando pelos olhos. Liguei para um amigo da minha mãe que o padre da nossa igreja, e ele foi lá em casa. Fez uma espécie de ritual no qual minha mãe foi se curando aos poucos. Enquanto ela se acalmava, ouviamos barulhos e gritos em toda a casa. Foi horrível, mas com muito esforço ela ficou bem, e não conseguia se lembrar de nada. Dias depois, fui ler o meu diário que guardo a nove anos, e na ultima página estava escrito: Você me deixou esperando. Disse que iria brincar de boneca comigo, mas preferiu suas amigas. Agora estou sozinha no escuro, e não posso achar a saída, mas saiba que assim que isso acontecer, coisas piores vão acontecer. Liliane.

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