segunda-feira, 17 de março de 2014

Posto 15

Há alguns anos, no dia 9 de julho de 1994, um sábado gélido e calmo, Juliana parou em um posto de gasolina às 02:47 da manhã para descansar da maldita viagem que vinha fazendo. Inclinou o banco na última posição, puxou uma coberta do banco traseiro e cobriu-se, ligando o rádio num volume baixinho só para que não se sentisse sozinha. De fato, ela não estava.

Por volta das 03:20 am, alguém bateu na lataria do carro três vezes, fazendo com que a garota acordasse com um pulo. Ela, muito esperta, não saiu de dentro do carro para ver quem ou o que era, ajoelhou-se no banco e olhou ao redor, mas não encontrou uma sombra sequer. Voltou ao sono, sendo acordada vinte e três minutos depois, novamente com três batidas, mas desta vez foram na porta do passageiro.

Desesperada, Juliana tentou ligar o carro várias vezes, mas não obteve sucesso. Certificou-se que os vidros e as portas estavam devidamente trancadas e se deitou, tirando o celular do bolso para ligar para a emergência, mas o celular estava completamente sem sinal. Uma batida estrondosa fez com que ela olhasse para o vidro do motorista, e então ela viu aquele maldito rosto coberto por uma máscara feita de pano velho, com costuras tortas e mal feitas. Segundos depois, uma pedra invadiu o carro, acertando a cabeça da menina, que desmaiou em seguida.

Amarrada numa cama 2x2m, nua e com muita dor na cabeça, Juliana acordou. Três homens medianos, dois deles bem fortes e um mais magro, estavam em volta da garota, com bandanas cobrindo o rosto. Ela começou a gritar por socorro, quando um dos rapazes se aproximou e vedou a boca dela com uma fita prata bastante resistente. Enquanto este acariciava os cabelos da moça, os outros começaram a tirar a roupa, ficando totalmente nus. Juliana tentava gritar enquanto os homens a penetravam, mas a fita abafava de uma maneira inacreditável. Ela começou a se debater, e foi novamente desacordada, dessa vez com socos.

Quando acordou, ela continuava nua, mas agora amarrada em um pilar que sustentava o imenso teto do posto, enquanto o rapaz mais magro jogava um liquido no cabelo dela que cheirava a gasolina. Abusaram mais e mais da pobre jovem, já passava das 05:40 quando acabaram a ''brincadeira''. Sem mais delongas, um dos garotos fez um rastro de gasolina afastando-se, mais ou menos, 110 metros da garota, e não exitou em deixar um isqueiro aceso cair. Pôde-se ouvir o barulho da explosão até da cidade vizinha, que ficava logo ali.

A polícia procurou os três homens por muito tempo, mas eles nunca foram encontrados. O posto ficava muito longe de qualquer lugar, numa estrada pouco usada, por isso não havia nenhuma testemunha. Até hoje há relatos de pessoas que passam por esse posto, desde então desativado, e vê uma mulher bem no fundo da escuridão, amarrada e se debatendo, agonizando de dor.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Quinque Infernalis Pestes

Preto. Eis a cor que Croatos usava. Uma grande capa com gorro a qual cobria seus descalços pés. Sobre o barco, carregava duas miseráveis almas, tais quais trocavam moedas prateadas com o barqueiro. O barco foi seguindo o curso do vasto rio, no qual desapareceu dentre tanta neblina. As pobres almas desceram acorrentadas umas as outras, enquanto Croatos seguia rumo de volta à imensa fila na qual mais almas sofridas o aguardavam desesperadamente.

Os acorrentados seguiram gruta à dentro, em busca de algum sinal de luz. Horas sofrendo no meio da apavorante gruta escura, eis que acharam uma criatura imensamente grotesca. Olhos negros, dedos finos e longos, ombros largos e corpo esquelético. Tal criatura os guiou até um campo verde, que naquele momento encontrava-se sombrio. Lugar onde havia gritos pedindo por ajuda, sombras que passavam dentre as gigantescas árvores, mãos que acariciavam suas faces constantemente.

Lanake, a criatura, disse em uma rouca e grave voz: Que assim seja feita a primeira peste infernal: desespero! Logo o dito, tocou em uma das almas, empurrando-a escuridão à dentro. Segundos passaram, e um forte vento correu pelo campo. A alma que sobrara correu desesperadamente para o rio. Chegando as margens do tal, achou uma brilhante maça, a qual, tomado pela fome, mordeu. Ao sentir o amargo gosto, cuspiu o que mordera, vendo assim que dentro da aparentemente saborosa fruta, havia nada menos que areia. Assim que fez, pode-se ouvir a voz de Lanake bem ao fundo gritando: Que assim seja feita a segunda peste infernal: fome! Apavorado, a alma mergulhou no rio, no qual saíram dezenas de mãos podres que o puxaram para o fundo.

Croatos chegara com mais duas almas. As mesmas que seguiram por outra gruta, esta, mais profunda e tenebrosa. Puderam achar uma fraca luz vermelha no fim de um túnel que só pudera passar aquele que rastejara até o mesmo. E assim o seguiram, encontrando um grande salão de pedras, com almas jogadas ao chão, gritando enquanto outras almas abriam seus corpos com as unhas sujas e compridas.

Um grande homem de olhos brancos aproximou-se das duas perdidas almas e disse a uma das tais: Aproxime-se mais, cara alma. Ao aproximar-se, Kreteus, guardião da segunda camada do inferno, lhe deu uma foice de cor escura, a qual era para abrir uma das almas amarradas por correntes nas camas pedregosas. Sem escolha, a alma o fez, ouvindo gritos horrendos de dor. Então, Kreteus ordenou: Que assim seja feita a terceira peste infernal: sofrimento! Tomada pelo medo, a alma que restara foi seguindo rumo ao segundo salão, acompanhado do bravo guardião.

Ao entrar, viu uma grande confusão ocorrendo em volta de um velho. Um senhor claramente sofrido, de barbas brancas e longas. A alma perguntou a Kreteus: O que faz este homem sentado em meio à confusão? Por qual motivo estas almas negras gritam? O destemido guardião respondeu-lhe: Meu caro! As almas das quais você se refere estão perdidas, e o velho o qual citou é o único ser deste mundo que pode mostrar-lhes a saída, o que não fará, pois seu dever é manter a maior quantidade de almas neste recinto em que nos encontramos. Faz isso para que não faltem almas a serem torturadas. A alma disse: Isso me dá arrepios, apenas de pensar no desespero que estes seres sentem. Então, Kreteus disse-lhe: Alma cujo nome é inexistente, deixo-lhe aqui como símbolo da quarta peste.

Kreteus berrou alto: Que assim seja feita a quarta peste infernal: medo! Croatos lá do fundo vinha trazendo uma única alma na embarcação. Alma qual vestia-se de branco. Chegando as margens do rio, a alma escolheu, dentre as três grutas, a do meio. A mesma era curta, de caminho fácil, e logo de entrada se via a luz do fim. Então ela seguiu, encontrando uma porta aterrorizantemente grande, de madeira. Antes que pudesse empurrá-la, Felignis puxou-a. A alma entrou. O guardião da terceira e última camada do inferno disse-lhe: Porque veste branco na profundeza da escuridão?

A resposta veio breve: Visto-me de cor clara pois busco a paz! Felignis gargalhou alto, mudando o semblante em seguida. Pegou forte pelo braço da última alma e disse-lhe: Está vendo esta porta? Quero que abra-a e siga o curto caminho que há atrás dela. Veja se pode encontrar a paz nela.

A alma de branco abriu a tal porta, encontrando poucos metros de chão, e em seu fim o abismo. A porta fechou-se com um forte vento gelado. A alma seguiu o caminho e caiu no abismo. Enquanto fazia, ouviu a voz de Felignis dizer: Não há paz onde há pestes, meu caro. Quando terminar este abismo encontrará almas, milhares delas, que devem ser sacrificadas. Almas das pessoas que amou. E o seu trabalho será esquartejá-las, e quando fizer isto, elas vão se recompor, para que você possa matá-las, de novo e de novo, para a eternidade, para que você possa sentir medo, desespero, fome e sofrimento. Não há paz, meu caro.

E com uma segunda gargalhada, Felignis murmurou: Que assim seja feita a quinta peste infernal: Uma mistura das outras quatro pragas, a Agonia. E assim criaram as cinco pestes infernais, as quais deixam o inferno mais apavorante. Um lugar onde as almas que mais procuram a luz, encontram a escuridão do abismo.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Acampamento do Demônio

Carol acampava com os amigos 1 vez por mês, pelo menos. Dia 15 de um setembro nublado. Não parecia muito diferente dos outros. Eles chegaram na floresta horas mais cedo, para montar as barracas sob a luz do dia, já que, ao anoitecer, não se via nada sem o auxílio de um ou dois lampiões (lanternas não eram suas preferências).

O local onde sempre se acomodavam estava estranhamente tomado por um solo musgoso e flores mortas, então caminharam mais adentro da enorme mata para encontrar um terreno plano e cercado por árvores. Faltando pouco para escurecer, eles acharam um bom lugar, embora não soubessem que já estavam muito longe da saída.

Montaram as barracas, estenderam os sacos de dormir em volta da fogueira e puseram uma pequena panela com macarrão para cozinhar, enquanto conversavam sobre a longa caminhada. Era um grupo de 5 amigos, contendo um casal de meninos gays e 3 garotas.

Após comerem e conversarem um pouco mais, foram dormir. Na mesma noite, às duas da manhã, Lucas ouviu um grito próximo de onde estavam. Ele acordou seu namorado, e depois as meninas, ficaram esperando o próximo grito para ver se não era coisa da cabeça do rapaz. E, infelizmente, não era. Minutos depois, um grito agudo e extremamente perturbante percorreu por toda a mata. Todos se amontoaram em uma só barraca, apagaram a fogueira e ficaram em total silêncio.

Alguns minutos se passaram e tudo parecia tranquilo de novo. Ao abrir a barraca, Lilian viu o corpo de uma garota de aproximadamente 16 anos jogado em frente à ela. A menina estava pálida, molhada e, para o desespero de todos, morta. Ouviram algo se aproximar, mas não viram nada. Rafael tentava ligar para alguém, mas o celular não funcionava. Quase não deu tempo de ver a sombra de um homem alto se aproximar e logo o viram rasgando a barraca com o seu facão. O grupo de amigos correu em direção ao local de onde vieram com o máximo de velocidade que suas pernas eram capazes de alcançar.

Quando estavam se aproximando da saída, um menino caiu de uma árvore com uma corda no pescoço, em frente à uma velha cabana de tamanho médio, caindo aos pedaços. Ele era jovem, 10 anos no máximo. Ficaram paralisados com a imagem macabra do garoto. Voltaram a realidade quando viram o homem alto correr muito depressa em direção a eles, e então ''voaram'' para fora do lugar.

Ao amanhecer, Carol e os amigos foram até a reserva onde os guardas cuidam a floresta. Intrigados pelo acontecido, os campistas perguntaram a eles se algo já havia acontecido naquela mata antes. Os guardas disseram que antigamente haviam boatos de que um lenhador, psicologicamente perturbado pela perda de sua esposa, teria, no dia 15 de setembro de 1934, afogado a sua filha em um córrego que passava por dentre as árvores, e enforcado o próprio filho no carvalho mais alto das redondezas, e que, se alguém perturbasse o local, seria incomodado pelos espíritos.

Os amigos continuam acampando, mas agora eles acharam um novo local, e sempre perguntam para as pessoas que moram nas proximidades se algo já aconteceu por alí.