sexta-feira, 13 de julho de 2012

Diário de Helena - Parte V (Final)

08/02/1989 – 07:40 a.m - Tudo pronto pra sair desse inferno. Chamamos o seu Valdir pra ir conosco, mas ele diz que não sabe viver em outro lugar além dali. Estamos muito tristes, e eu não consigo segurar as lágrimas. Vamos levar o corpo na carroceria , quando chegar na cidade levaremos pra uma agência funerária, ou, não sei, não entendo dessas coisas. Não tenho mais palavras agora.

08/02/1989 – 13:32 p.m - Finalmente! Um pouquinho mais aliviada por sair da floresta. Os meninos nos deixaram aqui no Black Night e foram cuidar do corpo. Não tenho a mínima ideia de como vamos falar pros pais do Márcio. Quem diria que meses planejando um simples acampamento acabaria numa tragédia. Os meninos acabaram de chegar com o carro, vamos ver no que deu, até.

08/02/1989 – 19:04 p.m - Chegamos em casa, já contamos o que houve. Todos estão de luto, velaremos o corpo na casa do Márcio amanhã. Encontraram um desenho indígena, provavelmente feito com faca, na parte interna da garganta do Márcio. Eu não sei o que pode ter feito isso, só sei que jamais quero voltar naquele lugar infernal. Vou guardar o diário, como uma lembrança ruim, a qual nunca mais quero ter.

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16/05/2008 - Meu nome é Karina, sou filha da Helena. Achei esse diário na caixa de lembranças, no sótão. Não li o que está escrito, pois se está escondido não é pra ser lido. Bom, como eu não tenho um diário, vou levar esse pro acampamento que vou com meus amigos. É uma mata fechada, parece legal. Vou escrever diariamente as experiências. Tomara que tudo de certo.

Diário de Helena - Parte IV

07/02/1989 – 06:05 a.m - Ah! Hoje acordamos bem cedinho com o cheiro do chimarrão fervendo. Já estamos a uma hora acordados, acordamos antes mesmo de ficar claro. Foi uma noite boa, mas nem tão tranquila. Por volta de 02:00, 02:30, ouvimos baterem na porta. O seu Valdir, saiu do seu quarto com a espingarda, e bem devagar abriu a porta. Não tinha nada. Do nada entrou um vento muito gelado na casa, todo mundo sentiu a energia pesar, mas logo foi embora. Ele disse que volta e meia isso acontece, e que ele também tem medo, mas que era pra nós voltarmos a dormir tranquilamente, que isso não ia se repetir. Mais ou menos dez minutos depois, eu e a Laura vimos um vulto passar bem rápido na janela, e sem seguida um estrondo na mata, mas ficamos bem quietas e deitamos. Cinco horas todos acordaram, tomaram um banho, escovaram os dentes e começamos a tomar o chimarrão, que por sinal está maravilhoso. Vou aproveitar a tranquilidade, porque mais tarde tem caçada, senão não tem jantar.

07/02/1989 – 13:20 p.m - Estamos saindo agora pra caçar. Comemos pão com queijo fresco, tudo muito bom. Eu nunca cacei nada, não sei nem segurar uma arma, então só vou acompanhar de vista mesmo. Nosso anfitrião disse que sempre ouve barulhos estranhos quando está caçando, então não era pra ficarmos com medo, como se isso funcionasse comigo. Vejamos se consigo pelo menos ver um animal pra ajudar na caçada.

07/02/1989 – 20:51 p.m - Oh meu Deus! Eu nunca estive mais apavorada, em pânico, assustada e tremendo de medo na minha vida. Depois de umas seis horas de caçada, já escuro, nós nos perdemos na mata. Conseguimos matar dois porcos, mas não conseguimos voltar pra casa. Ficamos andando, rodando, andando, rodando, e nada. De repente, ouvimos uma coisa grande se aproximando, e um vento muito forte e gelado pairou ali. Aquela coisa ia chegando perto, e mais perto, até que pareceu subir na árvore. O seu Valdir nos olhou e pediu pra nós corrermos, porque aquilo poderia ser muito perigoso. Quando demos as costas pra procurar o caminho, uma criatura de aproximadamente dois metros e meio, muito magro, de cabeça grande, olhos esbugalhados, mãos enormes, e dentes afiados pulou de cima da mais alta árvore, sem sequer se ferir. Essa coisa, que parecia um índio, ficou nos encarando, e indo cada vez mais pra cima. Um dos meninos disse pra nos afastarmos, e de repente a criatura berrou. Um grito arrepiante, muito alto e grave, que durou por mais de dez segundos. Apesar de aparentar, aquilo não era humano, nunca tinha ouvido de falar de algo parecido. O bicho quebrou o pescoço do Márcio, e eu apavorada gritei, e aquilo veio imediatamente pra cima de mim. Quando estava quase me alcançando, o seu Valdir atirou nele, e então ele se afastou, e escalou a arvore, desaparecendo em seguida. Agora estamos aqui, desesperados, perdemos nosso melhor amigo. Eu não sei o que faço, vamos esperar amanhecer pra irmos embora, agora é arriscado.

08/02/1989 – 04:12 a.m - Eu não vejo a hora de ir embora desse pesadelo. Isso me deixa cada vez mais nervosa e apavorada. Agora a pouco pensei ter ouvido a voz do Márcio pedindo socorro, mas o anfitrião pediu pra nós não sairmos da casa, pois logo que sua esposa morreu, ele ouviu a voz dela o chamando por dias, e quando finalmente tomou coragem pra ver o que era, tinha uma sombra dentre as árvores, o chamando com a voz dela. Só quero que isso acabe logo.

Diário de Helena - Parte III

06/02/1989 – 09:13 a.m - Tudo está bem! O Lucas, Carol, Márcio e o Guga voltaram, mas os dois sumidinhos voltaram bem machucados. Disseram que estavam se beijando, quando ouviram um barulho muito forte de alguém pulando na árvore, e logo em seguida, viram uma sombra enorme vindo muito rápido, e apagaram. Foi super estranho, e eu to começando a entrar em pânico. Já falei pra todo mundo pra nós irmos embora, mas eles acham que eu sou paranoica. Eu e o Leandro ficamos essa noite, foi maravilhoso, e isso é a única coisa que me conforta. Vou tentar ficar mais calma, e escrevo mais tarde, beijos!

06/02/1989 – 13:00 p.m - Estamos almoçando só agora! Peixe de novo, mas tá muito bom. Agorinha a pouco fomos andar pela mata, onde o Luquinhas e a Cah foram ontem, pra ver se tinha alguma evidência de animal, um grande, mas só tinha uns arranhões, iguais aos da outras árvores. Pela segunda vez, tinha barraca desarrumada, mas dessa vez é a minha. Não sei o que ta acontecendo, eu arrumei quando acordei, e ninguém ficou no acampamento, então, Omo ela se desarrumou? Sozinha é que não foi...mas tudo bem. Vou terminar de comer.

06/02/1989 – 15:21 p.m - Andando pela floresta, explorando de novo, nós achamos uma casinha de madeira, que parecia abandonada. Batemos na porta, e nada, mas não podia ser abandonada, porque eu olhei pelo vidro e tudo estava tão arrumadinho, tinha até cheiro de comida no fogão. Ficamos esperando um pouco, e de repente saiu um velhinho da floresta, com uma espingarda, e um porco do mato nas costas. Ele cumprimentou todo mundo, chamou a gente pra entrar, é um senhor bem simpático mesmo. Mora sozinho nessa casa desde que a mulher dele morreu, faz 4 anos. Ele nem liga, diz que tudo que ele precisa pra viver tem na mata. Nós contamos a história de ontem pra ele, e ele disse que a mata é um lugar muito, muito perigoso, e que a gente tava se arriscando acampando nela. Ele foi prepara um chá pra nós, quando voltar ele vai contar umas histórias do lugar, daí eu vou resumir pra escrever no diário.

06/02/1989 – 21:07 p.m - Então, agora eu estou 5 vezes mais apavorada! Vou explicar o porque. Primeiro: eu tenho medo de história de terror, principalmente quando são reais. Segundo, o seu Valdir, o senhor que encontramos nos contou a seguinte história: A muitos anos atrás, não se sabe exatamente quando, mas provavelmente no século passado, a floresta era habitada por uma aldeia de índios canibais. Eles pegavam todas as pessoas que não eram da tribo e as comiam vivas. O chefe, ou Cacique como é chamado o chefe da tribo, era um homem muito alto, corria muito rápido, era muito habilidoso para subir e pular em árvores. Um dia, um homem estranho chegou a tribo. Branco, olhos negros, bem arrumado e gordinho. Sem saber que havia uma tribo ali, foi se alojando. Um dia, quando acordou, sua barraca estava cercada de indígenas. Rapidamente, sacou duas armas e, com muita habilidade, matou todos os homens que o ameaçavam, deixando apenas o cacique vivo, que estava bem escondido em sua oca. Revoltado com o homem branco, o cacique o espancou até deixa-lo desacordado, e o amarrou na oca. Quando o homem acordou, estava sem sua perna direita. O cacique disse que o comeria bem lentamente, e isso era o castigo dele. E assim fez. Quando terminou de matar o homem branco, se sentia mais vivo, forte e habilidoso, e que o estranho homem que comera era uma espécie de semi deus, que dava vida eterna. A oca foi destruída com o tempo, e não se sabe o que houve com o cacique. Bem, isso é apenas lenda indígena, ou real? Eu não sei, mas gosto de acreditar nessas coisas, mesmo tendo medo. Estamos voltando pro acampamento agora, vamos pegar nossas coisas e trazer aqui pra casa do seu Valdir, vamos dormir com ele, é mais seguro. Até qualquer momento.

06/02/1989 – 23:19 p.m - Estamos de volta a casa. Já desmontamos as barracas e colocamos os colchonetes na sala, perto da lareira, pra ficarmos bem quentinhos. Acho que essa noite vai ser mais tranquila, me sinto mais confortável e protegida. Vamos ficar conversando mais um pouco, até dar sono.

Diário de Helena - Parte II

05/02/1989 – 08:10 a.m - Acabamos de acordar! Os meninos estão preparando o café, e as meninas estão se arrumando na barraca. Tirando o medo da noite, foi tudo ótimo. A barraca do Márcio tem umas manchas estranhas, parece que alguém colocou a mão suja de barro lá, mas é uma mão meio grande... bem estranho. Mas eu to muito feliz por estar aqui com meus amigos. Hoje nós vamos explorar a mata, ver se achamos um riacho pra pescar, coisas assim. Vou levar meu diário comigo, pra relatar alguma coisa, se acontecer. Até mais!

05/02/1989 – 13:25 p.m - Ah, que ótimo! Achamos um córrego pra pescar. Já peguei 3 peixes, e olha que fui a que peguei menos. Hoje já tem janta!!! Quando a gente tava vindo pra cá, vimos uns arranhões nas árvores, tipo urso, mas aqui não tem ursos. Também ouvimos alguma coisa pulando de árvore em árvore, mas não vimos nada. Agora nós estamos pescando, e bebendo as cervejas que os rapazes trouxeram, vou tentar pegar 10 peixes, com certeza vou escrever mais depois, mais tarde!

05/02/1989 – 19:02 p.m - Não consegui pegar 10 peixes, mas no geral, temos janta pra dois dias! O Lucas sumiu com a Carol no meio da mata, não sei o que os dois estão fazendo, mas eles estavam se olhando desde o Black Night, eu e todo mundo percebeu isso. Eu gosto do Leandro, mas não sei se ele ta afim de mim. Ele me olha diferente, mas, eu não vou ficar dando em cima dele. Quando chegamos da pescaria, a barraca da Liz e do Gustavo tava toda revirada, completamente desarrumada, mas eu vi que ela organizou tudo antes de sair pra pescar. Deve ter sido brincadeira de algum menino, eles adoram fazer essas coisas com a gente. Enfim, quando formos dormir eu escrevo mais, nem que seja só um ‘’boa noite’’.

06/02/1989 – 01:37 a.m - Todos estão muito preocupados, porque o Lucas e a Cah ainda não voltaram. Nós gritamos, sinalizamos, mas nenhuma resposta. O Márcio e o Guga foram procurar eles, acho que ninguém vai dormir até os 4 estiverem aqui. Eu vou deitar na barraca do Leandro, ele me chamou pra dormir com ele, e as meninas vão ficar umas com as outras, dormir na mesma barraca, por segurança. Então, até amanhã, tomara que tudo fique bem.

Diário de Helena - Parte I

04/02/1989 – 10:47 a.m - Hoje sairemos da grande cidade e partiremos pro interior, numa mata bem fechada, e grande. Nós vamos acampar. AH! Mal posso esperar por isso, a gente ta querendo acampar a meses, e parece que finalmente vai dar certo. Daqui a pouco eu e minhas duas amigas, Caroline e Laura, vamos sair daqui de casa pra ir encontrar o Luquinhas, o Leandro e o Márcio. Nós vamos na caminhonete deles pra lá. É meio longe então a gente deve chegar lá bem tarde, tipo umas 21:00 horas, por ai. Mais tarde escrevo mais.

04/02/1989 – 16:30 p.m - Ah que emoção. Nós estamos a caminho da floresta onde vamos acampar. A mais ou menos uma hora, passamos pelo ‘’Black Night’’, um bar de beira de estrada. É um barzinho muito legal, mais específico pra rockeiros mesmo, daí a gente fico ali, curtindo um rockzinho, bebendo, conversando. Encontramos a Liz e o Guga, namorados. São amigos nossos, vão no carro deles acampar também, já que não tinham nada melhor pra fazer nesse feriado. Bem, acho que quando chegarmos lá, eu escrevo um pouco mais de como foi a viajem. Beijos.

04/02/1989 – 22:14 p.m - Bom, chegamos finalmente! Faz uma hora eu acho, mas esperei pra escrever porque estávamos montado as barracas, tentando acender uma fogueira, essas coisas de acampamento. Aqui é super legal. Isolado de tudo e de todos, ficamos bem no centro da floresta eu acho, não da pra ouvir nada além de uns barulhos que vem de todos os cantos, mas é assim mesmo, em floresta, certo? Os meninos ficaram mais afastados, eles colocaram as barracas deles numa espécie de triângulo, e nós ficamos no meio, fizeram isso pra deixar as meninas mais protegidas, eu acho. Então, nos próximos dias eu vou escrever como ta sendo aqui, então, até qualquer hora, durmam bem. Um beijo meu e das garotas.

05/02/1989 – 02:53 a.m - Eu decidi escrever agora porque eu to com um pouco de medo, e escrever me acalma. Eu ouvi um barulho, deve ser de algum animal grande, chegando cada vez mais perto. O Leandro saiu da barraca, e disse que viu uma sombra estranha na floresta. Todo mundo ta com um pouco de medo, mas acho que eu to levando mais a sério. Não deve ser nada, eu que sou boba com essas coisas. E vou tentar dormir agora, até amanhã, espero!

terça-feira, 10 de julho de 2012

O espírito vingativo

Meu nome é Andressa, tenho 46 anos. O que eu vou contar aconteceu a 6 anos, quando minha filha faleceu. Era um dia muito frio, e eu fui pra cozinha preparar chocolate quente, enquanto ela ficou na sala com seu namorado, o Caio. Antes de namorar esse rapaz, minha filha era linda. Tinha um cabelo até o meio das costas, unhas bem cuidadas, não fumava nem bebia. Depois que essa paixão apareceu, ela se perdeu nas bebidas e drogas, cortou e pintou o cabelo, ficou desleixada, mas de qualquer forma, eu era a mãe dela, tinha que cuidar. Bom, fui pra cozinha. Depois de algum tempo, escutei ela gritar de dor, e ouvi a porta da sala bater. Quando cheguei lá, ela estava com uma faca enfiada na garganta. Me desesperei, é claro. Mas não tinha mais volta, ela já havia morrido. Exatamente um ano depois, eu passei pra comprar uma revista na banca de jornais que tem na esquina da loja onde eu trabalho, e num dos jornais estava como manchete: GAROTO DE 17 ANOS MORRE ASSASSINADO COM FACADA NA GARGANTA! Comprei o tal jornal. Levei um grande susto ao saber que o menino que tinha morrido era o ex-namorado da minha filha. Achei muito, muito estranho mesmo, ainda mais porque no jornal dizia que não havia sinais de invasão ou qualquer tipo de vestígio, mas essas coisas acontecem. No ano seguinte, passando pela mesma banca de jornal, vi uma nova manchete: MAIARA ARAÚJO, DE 18 ANOS MORRE ASSASSINADA COM A GARGANTA CORTADA! Era muita coincidência. Maiara Araújo era a menina que minha filha desconfiava ser ‘’amante’’ do ex namorado dela. Resolvi procurar um centro espírita que minha amiga indiciou depois de saber da história. Nada adiantou. Fui pra casa frustrada por não conseguir falar com a minha menina. Entrei no quarto que era dela. Já estava praticamente vazio, já havia vendido todas as suas roupas, objetos, tudo. Quando eu estava saindo do quarto, a porta bateu bem forte. A cama e a escrivaninha que eram os únicos móveis que sobraram no quarto se mexeram. A janela quebrou e um vento muito, muito gelado dominou o quarto. Ouvi a voz dela e me virei. Ela estava lá, em pé, magra, feia, nem parecia o meu bebê. Ela se aproximou de mim e me agarrou pelo pescoço, tirou uma faca enorme do vestido e me disse que eu a sufocava demais enquanto ela vivia, não a deixava sair nem nada, mas eu só tentava proteger. Ela gritou e disse que voltaria logo, e de repente sumiu. Tudo voltou ao normal. No dia seguinte eu peguei todos os livros, colares, tudo o que sobrou dela, inclusive a pulseira de capim que ela fez pra mim com 5 anos, e queimei na lareira, pois tava muito frio e não tinha mais lenha pra esquentar, então aproveitei que queria me livrar de tudo que me lembrasse ela, queria ficar só com seus sorrisos na minha cabeça. Quando joguei a pulsei que me fizera, senti um calor atrás de mim, e quando olhei, era minha filha Lara queimando, gritando de dor, e novamente, sumiu. Depois desse dia não senti nenhuma vibração diferente na casa, nada estranho aconteceu. Não sei se tem a ver com o que houve nesse dia, mas, acho que ela está mais feliz agora, como eu estou.